Missão Centenário
Quais os reais resultados para a sociedade brasileira?
Por: Oswaldo
Loureda
A Missão Centenário, realizada em 29 de
março de 2006, certamente não foi uma missão espacial convencional, em diversos
aspectos podemos chegar a essa conclusão. Primeiramente podemos analisar o
aspecto histórico da mesma, dificilmente podemos pensar em uma forma mais
alusiva de comemorar e homenagear o pioneiro voo de Petit Santo, nosso
Santos Dumont, abordo do 14 Bis em Paris, 100 anos antes.
Outro aspecto a ser considerado, a carga
útil composta pelos experimentos de microgravidade embarcados na ISS durante a
missão, trouxeram resultados ímpares para seus pesquisadores aqui na terra. Os
experimentos tecnológicos, desenhados e desenvolvidos por pesquisadores da
UFSC, dos laboratórios de Combustão e Engenharia de Sistemas Térmicos, e
Laboratório de Tubos de Calor tem aplicação direta no campo de controle térmico
de sistemas espaciais, componentes até então importados a preço de ouro,
recentemente essas pesquisas também deram base para spin-offs no campo de
fornos para padarias, por mais incrível que isso pareça. No entanto se olharmos
bem para nossas tecnologias usuais atualmente, veremos centenas delas como derivação do campo espacial.
Os experimentos de cunho mais científico,
ou com aplicações menos imediatas, foram desenvolvidos pela Embrapa, o CenPRA,
FEI e pela UERJ, com temas bastante avançados, gerando posteriores reproduções
por parte de outras agências espaciais. Citando apenas o exemplo do experimento
concebido pela Unidade de Recursos
Genéticos e Biotecnologia da Embrapa, apesar de classificado como experimento de cunho científico, o estudo
da germinação de sementes em ambiente de microgravidade, feito pela Embrapa, veio
melhorar nosso entendimento sobre um aspecto do plantio que tem impacto direto
em nossa economia.
Além da oportunidade de projetar a bandeira
nacional no campo aeroespacial de uma forma global, e entrar no hall de países
que possuem astronautas entre os seus, a missão centenário provocou um impacto
enorme na sociedade brasileira de um modo geral. Para aqueles que não tinham
interesse pela área de ciência e tecnologia na época, foi um bom motivo para
olhar para o setor de uma forma diferente, mais próxima talvez, afinal tínhamos
um compatriota lá no espaço, não era mais “coisa de americanos” apenas.
Juntamente com os experimentos científicos
e tecnológicos, a missão também foi responsável por realizar alguns
experimentos de cunho puramente educacional e motivacional, desenvolvidos por
alunos do ensino fundamental de São José dos Campos, atividade essa muito
elogiada pela NASA. No entanto, o produto direto desses experimentos foi o
incentivo a carreira de ciência e tecnologia para algumas dezenas ou centenas
de jovens alunos de São José, o que é muito bom, obviamente, mas termina ai?
Para a geração com idade entre 10 e 25 anos
aproximadamente, que tinha algum interesse pela área científica e tecnológica,
a missão centenário representou não somente um marco histórico, mas um marco de
superação nacional, um marco de “Eu Posso, Nós também podemos” fazer tecnologia
espacial, lançar foguetes, construir satélites e ir ao espaço. O Brasil possui
uma longa história de superação e sucessos no campo aeroespacial, no entanto,
nunca o cidadão comum teve a chance de perceber isso de forma tão clara, quanto
no momento que pôde ver aquele foguete Soyuz de 305 toneladas decolando com um
Brasileiro lá dentro, carregando nossa bandeira em todos os sentidos, não como um turista ou um estrangeiro naturalizado, mas sim como um representante da nossa própria Agência Espacial e de nosso talento, nosso povo.
Dezenas de milhares dos jovens engenheiros
e cientistas no Brasil atualmente foram incentivados e motivados nessa carreira
por meio desse lançamento, por meio das palestras do Astronauta Marcos Pontes
ou mesmo por artigos na imprensa. Mas fica a questão, qual o valor disso para uma nação continental
como o Brasil? Quanto isso vale? Gastamos R$ 1,080 bilhões no Itaquerão, será
que daqui a 10 anos teremos 57 vezes mais resultado do que os R$ 19 milhões investidos
na missão centenário gerou? Só mesmo o tempo dirá.