terça-feira, 29 de março de 2016

Missão Centenário

Quais os reais resultados para a sociedade brasileira?



Por: Oswaldo Loureda

A Missão Centenário, realizada em 29 de março de 2006, certamente não foi uma missão espacial convencional, em diversos aspectos podemos chegar a essa conclusão. Primeiramente podemos analisar o aspecto histórico da mesma, dificilmente podemos pensar em uma forma mais alusiva de comemorar e homenagear o pioneiro voo de Petit Santo, nosso Santos Dumont, abordo do 14 Bis em Paris, 100 anos antes.
Outro aspecto a ser considerado, a carga útil composta pelos experimentos de microgravidade embarcados na ISS durante a missão, trouxeram resultados ímpares para seus pesquisadores aqui na terra. Os experimentos tecnológicos, desenhados e desenvolvidos por pesquisadores da UFSC, dos laboratórios de Combustão e Engenharia de Sistemas Térmicos, e Laboratório de Tubos de Calor tem aplicação direta no campo de controle térmico de sistemas espaciais, componentes até então importados a preço de ouro, recentemente essas pesquisas também deram base para spin-offs no campo de fornos para padarias, por mais incrível que isso pareça. No entanto se olharmos bem para nossas tecnologias usuais atualmente, veremos centenas delas como derivação do campo espacial.
Os experimentos de cunho mais científico, ou com aplicações menos imediatas, foram desenvolvidos pela Embrapa, o CenPRA, FEI e pela UERJ, com temas bastante avançados, gerando posteriores reproduções por parte de outras agências espaciais. Citando apenas o exemplo do experimento concebido pela Unidade de Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa, apesar de classificado como experimento de cunho científico, o estudo da germinação de sementes em ambiente de microgravidade, feito pela Embrapa, veio melhorar nosso entendimento sobre um aspecto do plantio que tem impacto direto em nossa economia. 
Além da oportunidade de projetar a bandeira nacional no campo aeroespacial de uma forma global, e entrar no hall de países que possuem astronautas entre os seus, a missão centenário provocou um impacto enorme na sociedade brasileira de um modo geral. Para aqueles que não tinham interesse pela área de ciência e tecnologia na época, foi um bom motivo para olhar para o setor de uma forma diferente, mais próxima talvez, afinal tínhamos um compatriota lá no espaço, não era mais “coisa de americanos” apenas.
Juntamente com os experimentos científicos e tecnológicos, a missão também foi responsável por realizar alguns experimentos de cunho puramente educacional e motivacional, desenvolvidos por alunos do ensino fundamental de São José dos Campos, atividade essa muito elogiada pela NASA. No entanto, o produto direto desses experimentos foi o incentivo a carreira de ciência e tecnologia para algumas dezenas ou centenas de jovens alunos de São José, o que é muito bom, obviamente, mas termina ai?
Para a geração com idade entre 10 e 25 anos aproximadamente, que tinha algum interesse pela área científica e tecnológica, a missão centenário representou não somente um marco histórico, mas um marco de superação nacional, um marco de “Eu Posso, Nós também podemos” fazer tecnologia espacial, lançar foguetes, construir satélites e ir ao espaço. O Brasil possui uma longa história de superação e sucessos no campo aeroespacial, no entanto, nunca o cidadão comum teve a chance de perceber isso de forma tão clara, quanto no momento que pôde ver aquele foguete Soyuz de 305 toneladas decolando com um Brasileiro lá dentro, carregando nossa bandeira em todos os sentidos, não como um turista ou um estrangeiro naturalizado, mas sim como um representante da nossa própria Agência Espacial e de nosso talento, nosso povo.
Dezenas de milhares dos jovens engenheiros e cientistas no Brasil atualmente foram incentivados e motivados nessa carreira por meio desse lançamento, por meio das palestras do Astronauta Marcos Pontes ou mesmo por artigos na imprensa. Mas fica a questão, qual o valor disso para uma nação continental como o Brasil? Quanto isso vale? Gastamos R$ 1,080 bilhões no Itaquerão, será que daqui a 10 anos teremos 57 vezes mais resultado do que os R$ 19 milhões investidos na missão centenário gerou? Só mesmo o tempo dirá.

terça-feira, 15 de março de 2016

Um pouco de RocketScience   


A muitos anos venho desenhando e lançando pequenos foguetes de sondagem, mas sempre tive o desejo de desenvolver um veículo com capacidade para chegar efetivamente ao espaço. Finalmente por meio da experiência adquirida ao longo dos anos na Acrux Aerospace, no IAE e nas excelentes escolas que tive a oportunidade de passar estou realizando agora esse antigo desejo. Ainda apenas resultados preliminares, mas extremamente empolgantes.
   É importante salientar que para essa missão de payload e apogeu, acredito que propulsão sólida  ou híbrida seria a escolha mais barata e simples, no entanto, esse projeto é dedicado ao desenvolvimento de uma plataforma de treinamento, educação e para missões especiais que necessitam de fino controle de velocidade, empuxo e trajetória... Próximo passo, Upper Stage =D


Apogeu: 100 km
Massa Total: 81 kg
Payload: 5 kg




quarta-feira, 2 de março de 2016

  Como gerar cientistas no Brasil de hoje



Físico Leandro Schip, do Parque da Ciência Newton Freire Maia em Pinhais/PR

   Tive o prazer de passar esse sábado no Madatech, Israel National Museum of Science, Technology, and Space, uma tarde realmente especial. Em várias partes do museu vi placas de empresas e indíviduos que doaram somas de recursos para partes do museu, exposições específicas ou simplesmente para a manutenção do museu. A estrutura realmente muito boa, muito conservada, no entanto, nesse dia de maior movimento (com uma entrada custando 90 Shekels (em torno de 100 reais), meia para estudantes do Technion =D) vi apenas um monitor na expoisição principal, no restante do parque não vi ninguém. No entanto mesmo assim, as crianças se divertiam pra valer, assim como muitos pais também. Gostaria de fazer um paralelo com nossos museus e parques de ciências pelo Brasil, que nunca poderiam cobrar uma entrada nesse valor, e que em raríssimas excessões podem contar com algum recurso privado. 

   Temos diversos museus interativos no Brasil, como exemplo o Parque da Ciência Newton Freire Maia em Pinhais/PR, a Estação Ciências e o Museu Catavento em São Paulo, o Museu de Ciência e Tecnologia da PUCRS em Porto Alegre, o Espaço Ciências em Recife, a Casa da Ciências em Aracaju. O que vi em comum em todos esses lugares? Dois ingrediantes principais, infelizmente falta de recursos e em alguns casos um completo desprezo por parte das “autoridades” públicas, e o outro ingrediente, uma vontade, garra e criatividade enorme por trás das pessoas envolvidas com o funcionamento dessas instituições, normalmente com vários monitores e até diretores dando verdadeiras aulas. São situações assim que me fazem amar mais minha nação. Por mais que muitos discordem, em minha perspectiva, a divulgação científica tem a mesma importância que o avanço da ciência em si. Uma nação NÃO avança tecnologicamente com alguns poucos cientistas e engenheiros, e uma corja de ignorantes e analfabetos funcionais no poder.

   Esse meu grande amigo da foto era um daqueles físicos metidos, daqueles que se metem em tudo, não tinha medo de não saber, se não sabia estudava, se era necessário ele fazia, principalmente quando o assunto era educação e difusão de ciências. Esse grande amigo, não só era um excelente educador, mas um excelente físico, técnico em automação, além de um grande cineasta. Esse cara pensou muito “fora da caixa” e tenho certeza que milhares de jovens que passaram pela sua vida no Parque da Ciência em Pinhais olham a ciência de um modo especial. A sua missão foi muito bem cumprida amigo, ficaram muitos discípulos, que venham mais Schips para formar a base da nossa nação.